
A sua relação com os animais, quase todos os animais, sempre tinha sido difícil. E até aí... tudo bem. O que lhe custava mesmo era ouvir dizer que “Os animais sentem quem é ou não é boa pessoa” ou ainda, “Eles percebem que tens medo, e pronto!” Já não lhe bastava o estigma de ser arranhado, mordido e humilhado por tudo o que tivesse mais de duas patas, ainda tinha de escutar longos sermões sobre etologia, vulgo "psicologia animal" e outras descobertas maravilhosas, tão bem apregoadas... principalmente por parte dos babados donos dos animalejos!
Havia no entanto, um género de animais que, para além de o tranquilizarem imenso, lhe recordavam uma infância feliz e com os quais nunca tinha tido qualquer tipo de desentendimento: os peixes de aquário (convém frisar este pequeno detalhe...)
Esse elo que o ligava ao mundo animal era praticamente desconhecido por todos os seus amigos e até pela Rita, com quem viveu durante três agridoces anos. Não lhe agradava admitir esse gosto, aparentemente pouco másculo, com receio de ser gozado, mesmo que se tratasse apenas de uma “brincadeira”. Isso tinha já acontecido, há tantos anos atrás, num momento em que optou por ficar a assistir ao nascimento dos Platys, em vez de ter ido jogar à bola. Desde essa altura e durante alguns meses, passou a ser conhecido como o “Barbatana”. Felizmente, as alcunhas tinham sempre pouca duração e desde “Oculetas” a “Pastilha” ou de “Bifanas” a “Livrinhos”, quase tudo lhe chamaram.
Presentemente não tinha nenhuma alcunha, pelo menos que o soubesse.
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