25 março 2010

Madrugar

kalanchoe pumila flower buds

Há um tempo para tudo e ainda bem.
As palavras, que têm essa magnífica característica de se renovarem a cada instante, são como os dias, passam e permanentemente anunciam novas etapas.
É isso que espero, uma nova etapa, que se confunda com a beleza dos dias, com a generosidade dos gestos, com a suavidade do anos que vou somando ou do inacreditável meio século que me espreita já ali, ao fundo da esquina.
Apesar de poder parecer contraditório, a minha identidade aumenta a sua solidez à medida que vai aumentando a sua multiplicidade, como se eu fosse sempre o Outro e, nessa roda de oportunidades, chegasse a ser eu próprio também, numa espécie de esquizofrenia depurada e respeitosa.

É verdade que a "Poesia se come", quando se percebe que a Liberdade se Vive.

25/03/10. 5:15Am

22 março 2010

Primavera

changing shirt lithops IV

Surpreendem-me os dias. Reside aí a sua beleza e também hipótese do desencanto. Mas eu gosto dos dias, como gosto das histórias que leio ou que ouço, como gosto das pessoas que têm histórias e se encantam ou desencantam com os dias.
Anseio o sabor desta Primavera que acaba de chegar.


17 março 2010

ericeira
Ericeira

Cravo as unhas no mundo,
às vezes para me agarrar,
outras para deixar marcas.
Sou puxado à velocidade que o tempo tem,
nem um segundo a mais, nem um segundo a menos,
embora nunca me pareça assim.
Pobre de quem vive sem saber que vive,
triste de quem antes do seu tempo quer morrer.
Sei que amanhã será um dia esplendoroso e depois de amanhã provavelmente não. Quanto ao dia mau, chegará também, porque também me pertence. Até lá, vivo segundo a segundo, feliz, agarrado à vida.

09 março 2010

aeonium tri-tabuliforme (tetra)
aeonium (tri)tabuliforme

"Acho que foi no início da Primavera. Sei que um pássaro cantava e outro não. Existem sempre pássaros que não cantam no início da Primavera.
Voltou a casa para buscar o livro que andava a ler, pois sem um livro ao pé de si sentia-se sozinho. Costumava dizer que os livros lhe faziam mais companhia do que as pessoas e do que os pássaros que cantam, até dos que só cantam no Inverno.
Gostava sempre das palavras que lia, de todas elas, porque o divertiam e lhe mostravam coisas que desconhecia e gostava de as repetir em silêncio ou em alta voz, trocando-lhes a ordem, numa espécie de jogo de possibilidades, tentando, claro está, manter a coerência do discurso. Mas ele também sabia que as palavras eram seres especiais, com personalidade e vontade própria, que se renovam e frutificam e, tantas vezes, tranquilizam e consolam.

Dizíamos nós que Março ainda estava na lembrança e de Abril se esperavam as anunciadas águas, quando se apercebeu de que não encontrava em nenhum lado o livro que o tinha feito voltar a casa. Não é possível, pensou, ninguém lá entrou em casa e a literatura, por muito viva que seja, não tem pernas, gracejou consigo mesmo, tentando afastar a angústia do momento.
Sentou-se por um momento no sofá, a que ternamente chama sofá-cama, não que o dito sofá possua tais intrínsecas características, mas porque a cama lhe tem imensos ciúmes, e tentou uma vez mais lembrar-se de onde poderia ter deixado o livro, não podia estar longe. Tinha a mesma relação com os livros que se tem com um namoro recente, não suportava a ideia de estar afastado dele durante um dia que fosse.
Poderemos nós ser reféns das palavras? pensou. Do que dizemos? Do que ouvimos?

Não podia gastar muito mais tempo nesta sua demanda e, deveras contrariado, saiu. Desta vez, saía de casa sobrecarregado. Subrepticiamente, dentro da sua cabeça, preparava-se uma revolução, amotinavam-se as palavras. Ele não estava habituado a nada disto, sempre tinha sido ele quem detinha a batuta, quem conduzia as ideias, mas as palavras tinham ficado à solta e tornaram-no seu refém, vestiram-se a rigor, traje marcial, comunicados à hora certa e apenas para os média, garbosas, elegantes, respeitadoras das patentes...
Foi um inferno durante um tempo, que lhe pareceu eterno, até que o Verão deixou de ser uma miragem e a Dúvida se juntou às fileiras daquela guerra já sem sentido. Por fim, percebeu que é impossível controlar as ideias e querer ser maior do que todas as palavras.

Ouvimos dizer que começou agora a escrever o seu segundo livro."

Lisboa, 9 de Março de 2010

06 março 2010

Nova

Quase diariamente, abro a "janela" de Nova mensagem, escrevo uma frase deste tamanho, fico a olhar para ela durante um minuto e acabo por perceber que, tal como agora, pouco ou nada tenho para dizer (parecerá estranho, eu sei...).
Assim, esperando que estas palavras cheguem a ver a luz dos vossos olhos, tento ultrapassar este momento de blackout, disfarçado de apatia, e agradeço-vos as continuadas visitas.
glass flour