31 janeiro 2009
Um pouco de azul
riphsalys policarpa
As pessoas, às vezes, têm comportamentos estranhos: aproveitam qualquer oportunidade para projectar nos outros todo o seu conflito interior, vitimizando-se, arranjando novas frentes de combate, fugindo do que realmente as incomoda.
Claro que todos temos diferentes formas de lidar com os problemas. No entanto, no que diz respeito à relação com os outros e no que me diz respeito, odeio mal-entendidos. Prefiro que me digam imediatamente, ou na primeira oportunidade, que não gostaram de algo que eu tenha feito ou dito, para que se possa esclarecer o sucedido, do que "fermetem", "confabulem", imaginem, visceralmente se zanguem e me apresentem as coisas como um "facto definitivo e consumado"!
Como se diz em Espanha:
"A Água clara e o Chocolate Espesso!"
30 janeiro 2009
Encontro
Entre Cortumes e Alviste não existia riso mais sonoro e ao mesmo tempo mais contagiante que o de Manuela. Entre Alviste e Pontadas não havia choro mais angustiante e piedoso que o de Raúl. Quando um dia uma prima comum se casou, convidou-os a ambos para a boda e aí se conheceram. Ela riu-se e ele fez beicinho. Durante a cerimónia de casamento, Manuela, que achava graça a tudo o que o padre dizia, só com as contínuas cotoveladas da sua mãe, tia de sua prima, se controlava. Quando os noivos disseram o Sim, ela deu uma gargalhada e todos os convidados serviram de coro ao seu riso solo. Todos, menos Raúl que, talvez espantado com tudo aquilo e apesar de ter fungado o tempo todo, naquele momento se calou.
Quando a cerimónia acabou, Manuela foi a primeira a sair da igreja e da sua mala de mão tirou um saco de arroz, que parecia maior do que a própria mala. A todo o custo, queria ser a primeira a desejar riqueza aos noivos e tudo o mais que se pode desejar, quando a alguém se atira punhados de arroz. Claro que o entusiasmo fez com que, mesmo antes de eles cá estarem fora, ela começasse a despejar o saco e, tendo a certeza que sua prima e o seu novo primo eram os próximos, encheu generosamente a sua grande mão e… tomem lá primos! Mas era Raúl quem vinha a sair, para fugir à confusão.
Até hoje ninguém consegue perceber como conseguiu ela encher-lhe a boca de tanto arroz. Se pela sua acidental pontaria, se pela boca aberta dele, ao soluçar.
Manuela, quando deu pelo sucedido, riu-se mais ainda e Raúl, de surpresa, calou-se e nem cuspiu o arroz, o que a fez dobrar o indobrável riso, provocando uma saída mais apressada da igreja de todos os convidados, que querendo descobrir o que se passava, empurram Raúl da porta da igreja e que, só nesse momento, se livrou do malfadado arroz.
Quase ninguém percebeu o que se tinha passado. Manuela, embora quisesse, não o conseguiu explicar, porque ria cada vez mais ao lembrar-se do ar de Raúl, que parecia um daqueles ratos que ela uma vez viu numa loja da cidade e que ficam com as bochechas cheias de comida, a olhar para quem olha para eles.
O casamento e a boda, para conveniência dos convidados que eram metade de Cortumes e metade de Pontadas e para além disso viriam a pé a maior parte do caminho, teve lugar em Alviste. Durou um dia só, porque não havia como instalar os convidados e as famílias também não eram suficientemente abastadas para que assim não fosse.
O almoço começou quando já todos tinham vontade de jantar. O Estio governava o céu, o que lhes permitiu ficar até mais tarde e poderem chegar sãos e salvos a casa, livres dos ataques dos lobos que por aqueles montes ainda existiam. Raúl, apesar do que se possa pensar, era destemido e não tinha medo de lobos. Quando já a maior parte dos convidados tinha saído, Raúl ofereceu-se para levar Manuela a casa e ela aceitou, mas não sem antes, com os seus grandes olhos brilhantes, ter pedido consentimento aos mais velhos que ali estavam presentes, levantando-se e saindo somente quando o Raúl disse É tarde.
Estava amena a noite e presente a Lua que, embora partida, iluminava bem todos os mais carreiros, que caminhos. Manuela, que tudo queria ver na terra e no céu, tropeçou numa pedra e caiu, torcendo um pé. A partir daí, só ajudada pelo Raúl conseguiu andar e meia de caminho, que faltava ainda, chegou para que, nos braços dele, ela sentisse ternura e protecção. Então, sem dizer uma palavra, deu-lhe um beijo e ele gostou tanto, que sorriu. Nem a Lua brilhava tanto quanto o seu sorriso. Ao ver isso, Manuela comoveu-se e chorou, chorou o sorriso dele.
Agora entre Cortumes e Pontadas não existe maior felicidade que a de ambos.
Julho, 1994
29 janeiro 2009
Todas as minhas ruas têm o teu nome*
Todas as minhas ruas têm o teu nome.
E é por isso que estou perdido.
Os únicos números que encontro são os dos dias
que estão nos umbrais das portas, que abres e fechas de seguida.
Ilusoriamente perpetuo-me, rabiscando as paredes, que em ti são de cal.
E, cheio de sentimentos nobres e indigentes, corro tanto.
Um, dois, oito, doze, dezoito, vinte e três, trinta, quatro, seis, sete, nove.
Já aqui estive.
Só mais uma vez...
*1997?
Indelével*
Nunca me esforcei para esquecer esses anos de calor persistente e cheiros incontornáveis. Esqueci-me, simplesmente. A maioria das pessoas acha isso estranho e exige-me lembranças dolorosas, cicatrizes emocionais.
Sinto-me culpado. Culpado por não ter pesadelos que me persigam noites a fio.
Mas há marcas que em mim são indeléveis: o abraço frágil e inseguro do filho que já não me conhecia, o meu nome na boca da minha mulher, o meu pai que já não estava, o choro desamparado de minha mãe, o vermelho dos cravos, que ainda escorria pelas paredes e o ter encontrado um país novo, tão próximo dos meus sonhos.
*"Uma Guerra 100 Palavras"- Concurso DN 1998?
28 janeiro 2009
Harvey Oscar Milk
A sensação é estranha, principalmente porque nunca nos conseguimos esquecer do facto de estarmos a "assistir" a um recente e verídico acontecimento. Claro que é um filme, um bom filme, com a irrepreensível interpretação do Sean Harvey Milk Penn, mas também é uma declaração de revolta, cíclica, actual, eterna.
"Estou aqui para vos recrutar!", dizia Harvey Milk.
A guerra contra o preconceito nunca terminará.
Para acompanhar...
Tantos *
Eram duas vezes um rapaz. Era uma vez uma rapariga.
Já só tens três minutos, dizia-lhe o relógio, e ele apressava o apressado passo e quem o olhava não percebia para onde ia, aliás, nunca ninguém percebe para onde alguém vai e também já ninguém se importa.
O Cais do Sodré está mesmo ali e o comboio, inevitavelmente, a esta hora, está cheio. Se ela não se atrasou, está, como sempre, na última carruagem, porque acredita piamente que os acidentes vitimam principalmente quem vai na carruagem da frente, o que, se pensarmos bem, tem a sua lógica.
Ele chegou, silenciosamente ofegante, e o seu primeiro olhar, depois de se desviar da porta que o queria tragar, foi para ela, ou melhor, para o sítio onde ela costumava estar. E estava, mas não sozinha. Só que ele não sabia, ela não sabia e ele não sabia. Ele não sabia que outro ele estava com ela, como ele estava. Amar é só ter olhos para quem se ama e não também para quem ama quem se ama, aí é preferível ter torpedos, por isso ninguém sabia de ninguém. Ele não sabia que o outro a amava, o outro não sabia que ele a amava e ela não sabia que ambos a amavam. Parece complicado, mas não é.
Tanto tempo esperou ele, quer um quer outro, até se resolver a tomar qualquer atitude reveladora do seu amor, que ela, um dia, desapareceu.
Voltaram a vê-la, quando se lhes terminou a frustração deles e a gravidez dela.
*quase-contos, 1999
Já só tens três minutos, dizia-lhe o relógio, e ele apressava o apressado passo e quem o olhava não percebia para onde ia, aliás, nunca ninguém percebe para onde alguém vai e também já ninguém se importa.
O Cais do Sodré está mesmo ali e o comboio, inevitavelmente, a esta hora, está cheio. Se ela não se atrasou, está, como sempre, na última carruagem, porque acredita piamente que os acidentes vitimam principalmente quem vai na carruagem da frente, o que, se pensarmos bem, tem a sua lógica.
Ele chegou, silenciosamente ofegante, e o seu primeiro olhar, depois de se desviar da porta que o queria tragar, foi para ela, ou melhor, para o sítio onde ela costumava estar. E estava, mas não sozinha. Só que ele não sabia, ela não sabia e ele não sabia. Ele não sabia que outro ele estava com ela, como ele estava. Amar é só ter olhos para quem se ama e não também para quem ama quem se ama, aí é preferível ter torpedos, por isso ninguém sabia de ninguém. Ele não sabia que o outro a amava, o outro não sabia que ele a amava e ela não sabia que ambos a amavam. Parece complicado, mas não é.
Tanto tempo esperou ele, quer um quer outro, até se resolver a tomar qualquer atitude reveladora do seu amor, que ela, um dia, desapareceu.
Voltaram a vê-la, quando se lhes terminou a frustração deles e a gravidez dela.
*quase-contos, 1999
26 janeiro 2009
25 janeiro 2009
Talvez Vicky Talvez Cristina Sempre Barcelona
Sempre fui fã do W.Allen e até gostei bastante do argumento do seu anterior filme (Match-Point), mas confesso que este VCB me desapontou um pouco, por me parecer... apenas um pouco mais do que a apresentação de vários postais ilustrados de Barcelona (cidade que bastante prezo), com boas interpretações dos três principais actores: Scarlett Johansson, Penélope Cruz, e Javier Bardem. O próprio Woody Alle admitiu que já não gosta de fazer filmes, prefere ficar na cama a imaginá-los!
Pois... continua muito imaginativo, mas tem vindo a perder a genialidade!
Espero gostar MUITO mais dos que se seguem: "Frost/Nixon", "A Dúvida", "Milk"
24 janeiro 2009
23 janeiro 2009
Visitar o Mundo ou...
Nascente do Rio Mundo - Albacete (Espanha)
... esperar que o mundo me visite
Current Country Totals
From 1 Aug 2008 to 4 Jan 2009
Brazil (BR) | 5,560 |
Portugal (PT) | 5,167 |
Spain (ES) | 709 |
Argentina (AR) | 125 |
Mexico (MX) | 94 |
Japan (JP) | 92 |
United States (US) | 89 |
United Kingdom (GB) | 70 |
Chile (CL) | 50 |
Italy (IT) | 49 |
France (FR) | 49 |
Germany (DE) | 47 |
Libyan Arab Jamahiriya (LY) | 34 |
Greece (GR) | 31 |
Egypt (EG) | 29 |
Switzerland (CH) | 22 |
Peru (PE) | 19 |
Saudi Arabia (SA) | 18 |
Europe (EU) | 17 |
Colombia (CO) | 15 |
Uruguay (UY) | 14 |
Netherlands (NL) | 14 |
Mozambique (MZ) | 13 |
Hungary (HU) | 10 |
Venezuela (VE) | 10 |
Canada (CA) | 9 |
Slovakia (SK) | 9 |
Turkey (TR) | 8 |
Australia (AU) | 6 |
China (CN) | 6 |
Sweden (SE) | 6 |
Paraguay (PY) | 6 |
Taiwan (TW) | 6 |
Israel (IL) | 5 |
Czech Republic (CZ) | 5 |
Panama (PA) | 5 |
Angola (AO) | 5 |
Poland (PL) | 5 |
Indonesia (ID) | 4 |
Jordan (JO) | 4 |
Korea, Republic of (KR) | 3 |
Russian Federation (RU) | 3 |
Bolivia (BO) | 3 |
Austria (AT) | 3 |
Puerto Rico (PR) | 3 |
Ecuador (EC) | 3 |
Belgium (BE) | 3 |
South Africa (ZA) | 3 |
Thailand (TH) | 3 |
Bulgaria (BG) | 2 |
Romania (RO) | 2 |
Denmark (DK) | 2 |
Serbia (RS) | 2 |
Lithuania (LT) | 2 |
Ukraine (UA) | 2 |
New Zealand (NZ) | 2 |
Cape Verde (CV) | 2 |
Costa Rica (CR) | 2 |
Iran, Islamic Republic of (IR) | 2 |
El Salvador (SV) | 2 |
Azerbaijan (AZ) | 2 |
Belarus (BY) | 1 |
Ireland (IE) | 1 |
Nigeria (NG) | 1 |
Reunion (RE) | 1 |
Finland (FI) | 1 |
Estonia (EE) | 1 |
Namibia (NA) | 1 |
Vietnam (VN) | 1 |
Suriname (SR) | 1 |
Luxembourg (LU) | 1 |
United Arab Emirates (AE) | 1 |
Bahrain (BH) | 1 |
Palestinian Territory (PS) | 1 |
Morocco (MA) | 1 |
Oman (OM) | 1 |
Hong Kong (HK) | 1 |
Croatia (HR) | 1 |
Cuba (CU) | 1 |
Macau (MO) | 1 |
Nicaragua (NI) | 1 |
Muito (pouco) importante
III D-6 III C#-6 F#7/5+ B7/9
+---+---+ O +---+ +---+ O +---+---+ +---+---+---+---+ +---+---+---+---+
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21 janeiro 2009
as palavras dos outros
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára...
Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...
Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...
O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...
Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...
Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...
A vida não pára!...
A vida é tão rara!...
Brutal
Voltando a aproveitar o facto de ser possuidor de um MedeiaCard (não me pagam a publicidade) , fui ontem ver A Troca.
Confesso-vos que, a menos de quinze minutos do ínicio da projecção, já tinha alguma dificuldade em ficar quieto na cadeira, tal era o "desconforto" causado pelo argumento (baseado numa história verdadeira) e pela magnífica interpretação da mãe (Angelina Jolie), a quem raptaram o filho e que ...
Nomeada para o ÓSCAR de MELHOR ACTRIZ
Não me surpreenderá que este filme venha ainda a ganhar muitos prémios!
Desaconselhável a jovens pais!
Impressionante!
Confesso-vos que, a menos de quinze minutos do ínicio da projecção, já tinha alguma dificuldade em ficar quieto na cadeira, tal era o "desconforto" causado pelo argumento (baseado numa história verdadeira) e pela magnífica interpretação da mãe (Angelina Jolie), a quem raptaram o filho e que ...
Nomeada para o ÓSCAR de MELHOR ACTRIZ
Não me surpreenderá que este filme venha ainda a ganhar muitos prémios!
Desaconselhável a jovens pais!
Impressionante!
Curioso
No passada sexta-feira fui ver "O Estranho Caso de Benjamin Button" e, apesar do Brad Pitt não ser um dos meus actores de eleição (desde o "Babel" que gosto mais de o ver em cena), gostei bastante das quase duas horas e meia de projecção! A Cate Blanchet tem um desempenho notável e, como filme de entretenimento, aconselho-o vivamente!
13 NOMEAÇÕES para os ÓSCARES
20 janeiro 2009
19 janeiro 2009
Elektra, op.58 - Richard Strauss
"E agora, algo completamente diferente"
(Que me perdoem os mais sensíveis. Já passou!)
Agave potatorum
5 de Dezembro
Aprendo o Vazio, da forma mais eficaz. Escapa-se-me a ideia que faço da Vida, mas provavelmente é apenas (e tanto) isto.
Desvanece-se-me a lembrança da lembrança do tempo em que ilusoriamente fui feliz e, por essa mesma razão, profundamente feliz, em tempos que pareciam eternos, absolutos.
Perdi a sombra do que fui e, agora, apenas permanecem os objectos de que disso fazem prova. O esforço que faço para tentar reiniciar a disciplina da pintura é semelhante ao de tentar provocar o vómito. Doem-me as entranhas e, aparentemente, o resultado é nulo. No entanto, luto para manter viva esta vontade de não desistir.
8 de Dezembro
Tenho de mim uma imagem parda, sem graça, decepada. São inseguros os meus gestos, que não passam de anúncios de segunda categoria, cujos produtos, já nem os tontos querem comprar.
Não consigo evitar esta autocomiseração, pois estou cheio de vazio. Durante muito tempo, demasiado tempo, apenas fui útil, de utilidade, utilizável e, agora, que isso só já não quero ser, esqueci-me do que antes disso fui e sobrevivo, num bunker com janela.
Recomeço a construção, impondo-me o único caminho momentaneamente possível: a futilidade existencial. Não tenho força para mais. Respiro racionadamente, porque pago agora o tempo em que usava o dobro do fôlego a que tinha direito. Não quero perguntas, acusações, culpas, nem conversas. Quase tudo me é estranho, menos a dor, que me é familiar, pois já há muito que tem a chave da minha alma.
Corro sérios riscos de magoar os que me rodeiam, nestes tempos que agora começam, pela necessidade que tenho em ser egoísta. Sinto os dias, como se fossem agulhas de Vudu.
Agave potatorum
5 de Dezembro
Aprendo o Vazio, da forma mais eficaz. Escapa-se-me a ideia que faço da Vida, mas provavelmente é apenas (e tanto) isto.
Desvanece-se-me a lembrança da lembrança do tempo em que ilusoriamente fui feliz e, por essa mesma razão, profundamente feliz, em tempos que pareciam eternos, absolutos.
Perdi a sombra do que fui e, agora, apenas permanecem os objectos de que disso fazem prova. O esforço que faço para tentar reiniciar a disciplina da pintura é semelhante ao de tentar provocar o vómito. Doem-me as entranhas e, aparentemente, o resultado é nulo. No entanto, luto para manter viva esta vontade de não desistir.
8 de Dezembro
Tenho de mim uma imagem parda, sem graça, decepada. São inseguros os meus gestos, que não passam de anúncios de segunda categoria, cujos produtos, já nem os tontos querem comprar.
Não consigo evitar esta autocomiseração, pois estou cheio de vazio. Durante muito tempo, demasiado tempo, apenas fui útil, de utilidade, utilizável e, agora, que isso só já não quero ser, esqueci-me do que antes disso fui e sobrevivo, num bunker com janela.
Recomeço a construção, impondo-me o único caminho momentaneamente possível: a futilidade existencial. Não tenho força para mais. Respiro racionadamente, porque pago agora o tempo em que usava o dobro do fôlego a que tinha direito. Não quero perguntas, acusações, culpas, nem conversas. Quase tudo me é estranho, menos a dor, que me é familiar, pois já há muito que tem a chave da minha alma.
Corro sérios riscos de magoar os que me rodeiam, nestes tempos que agora começam, pela necessidade que tenho em ser egoísta. Sinto os dias, como se fossem agulhas de Vudu.
18 janeiro 2009
À flor da pele*
12 janeiro 2009
Arrebatador
Hoje, às 19h, fui ao Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian ver e ouvir:
Nikolai Lugansky
que interpretou:
Leos Janácek
Sonata para Piano 1.X.1905
Fryderyk Chopin
Sonata para Piano N.°3, em Si menor, op. 58
Sergei Rachmaninov
Sonata para Piano N.°1, em Ré menor, op. 28
**************************
Foi magnífico!!!!!
Se quiserem ouvir um pouco... (outra peça)
Nikolai Lugansky
que interpretou:
Leos Janácek
Sonata para Piano 1.X.1905
Fryderyk Chopin
Sonata para Piano N.°3, em Si menor, op. 58
Sergei Rachmaninov
Sonata para Piano N.°1, em Ré menor, op. 28
**************************
Foi magnífico!!!!!
Se quiserem ouvir um pouco... (outra peça)
09 janeiro 2009
Excerto
sedum hirsutum ssp baeticum
(acerca do hipotético tema para a próxima exposição)
"... dos vários temas que já me mereceram alguma reflexão, a questão da (pre)meta-comunicação ou, melhor(?) dizendo, do espaço vazio que circunda a própria comunicação, aquele que antecede o equívoco e o malentendido, que permite a angústia do silêncio e da dúvida, que está destinado à espera e ao respiro, é efectivamente aquele que mais me atrai, pela sua complexidade e pela sua capacidade de permitir o absoluto."
8 de Janeiro de 2009
Pág.2, do (acabado de iniciar) Diário "..."
08 janeiro 2009
Lutar a favor...
...da felicidade e ir deixando pelo caminho os acontecimentos menos bons, esperando que, esquecidos, se apercebam de que afinal não são assim tão importantes.
Fervilho por dentro, quase como antigamente, pensando neste e naquele projecto, imaginando esta, aquela e ainda outra imagem, deixando que me sorria a alma, reabrindo os becos da minha abandonada cidade.
(re)Descubro que, afinal, não se extinguiu a centelha de luz, que me mostrava um eterno Amanhã, nem aquela voz que me sussurrava "Tu consegues!". Sinto que me separo do meu exosqueleto e que o ar me basta, para me tornar cada vez mais forte.
Sinto que rejuvenesço a cada dia que passa (mas claro que é mentira! Estou apenas mais pateta!)
Fervilho por dentro, quase como antigamente, pensando neste e naquele projecto, imaginando esta, aquela e ainda outra imagem, deixando que me sorria a alma, reabrindo os becos da minha abandonada cidade.
(re)Descubro que, afinal, não se extinguiu a centelha de luz, que me mostrava um eterno Amanhã, nem aquela voz que me sussurrava "Tu consegues!". Sinto que me separo do meu exosqueleto e que o ar me basta, para me tornar cada vez mais forte.
Sinto que rejuvenesço a cada dia que passa (mas claro que é mentira! Estou apenas mais pateta!)
07 janeiro 2009
O Gosto do Ladrão
Dia 6 de Janeiro, 12:10h
Primeiro, olhou de fora do portão, depois saltou, tentou arrancar a Laranjeira e, como não conseguiu... foi ver o que poderia levar. Subiu ao terraço, entrou na estufa e uns minutos depois, passou com um saco num dos braços, onde levava estes dois cactos...
e... no outro braço, este gymnocalycium (o maior que eu já alguma vez tive)
Primeiro, olhou de fora do portão, depois saltou, tentou arrancar a Laranjeira e, como não conseguiu... foi ver o que poderia levar. Subiu ao terraço, entrou na estufa e uns minutos depois, passou com um saco num dos braços, onde levava estes dois cactos...
e... no outro braço, este gymnocalycium (o maior que eu já alguma vez tive)
03 janeiro 2009
Não saí de casa...
02 janeiro 2009
Viva este ANO NOVO!
Desde ontem, primeiro dia do ano, que tento encontrar a imagem e as palavras certas para colocar no primeiro "post" de 2009, deste blogue ajardinado! Não tem sido fácil nenhuma parte da tarefa, pois tudo o que encontro me parece ficar aquém daquilo de que necessito.
A inesperada celebração da passagem de ano, em minha casa (uma espécie de "assalto, à moda antiga"), revelou-se como um dos momentos mais gratificantes dos meus últimos meses (anos?). Admito que se cometeram excessos de: boa disposição, de cumplicidade, de entusiasmo! Confesso que dançámos quase tudo o que podíamos... cantámos menos de um décimo do que sabíamos e só bebemos metade do que aguentávamos!!!
E eu, que costumo ser tão verborreico, tão fácil de palavras, não me sinto capaz de cabalmente descrever aquelas horas que literalmente passaram a voar.
Resta-me apenas agradecer a generosidade de cada uma das abençoadas almas que por minha casa passaram na noite de 31, do ano que já passou.
(Permitir-me-ão agradecer em especial à Lena que, como um anjo, sempre cuida de mim)
A inesperada celebração da passagem de ano, em minha casa (uma espécie de "assalto, à moda antiga"), revelou-se como um dos momentos mais gratificantes dos meus últimos meses (anos?). Admito que se cometeram excessos de: boa disposição, de cumplicidade, de entusiasmo! Confesso que dançámos quase tudo o que podíamos... cantámos menos de um décimo do que sabíamos e só bebemos metade do que aguentávamos!!!
E eu, que costumo ser tão verborreico, tão fácil de palavras, não me sinto capaz de cabalmente descrever aquelas horas que literalmente passaram a voar.
Resta-me apenas agradecer a generosidade de cada uma das abençoadas almas que por minha casa passaram na noite de 31, do ano que já passou.
(Permitir-me-ão agradecer em especial à Lena que, como um anjo, sempre cuida de mim)
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