29 janeiro 2009

Indelével*



Nunca me esforcei para esquecer esses anos de calor persistente e cheiros incontornáveis. Esqueci-me, simplesmente. A maioria das pessoas acha isso estranho e exige-me lembranças dolorosas, cicatrizes emocionais.
Sinto-me culpado. Culpado por não ter pesadelos que me persigam noites a fio.
Mas há marcas que em mim são indeléveis: o abraço frágil e inseguro do filho que já não me conhecia, o meu nome na boca da minha mulher, o meu pai que já não estava, o choro desamparado de minha mãe, o vermelho dos cravos, que ainda escorria pelas paredes e o ter encontrado um país novo, tão próximo dos meus sonhos.

*"Uma Guerra 100 Palavras"- Concurso DN 1998?

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