(Que me perdoem os mais sensíveis. Já passou!)
Agave potatorum
5 de Dezembro
Aprendo o Vazio, da forma mais eficaz. Escapa-se-me a ideia que faço da Vida, mas provavelmente é apenas (e tanto) isto.
Desvanece-se-me a lembrança da lembrança do tempo em que ilusoriamente fui feliz e, por essa mesma razão, profundamente feliz, em tempos que pareciam eternos, absolutos.
Perdi a sombra do que fui e, agora, apenas permanecem os objectos de que disso fazem prova. O esforço que faço para tentar reiniciar a disciplina da pintura é semelhante ao de tentar provocar o vómito. Doem-me as entranhas e, aparentemente, o resultado é nulo. No entanto, luto para manter viva esta vontade de não desistir.
8 de Dezembro
Tenho de mim uma imagem parda, sem graça, decepada. São inseguros os meus gestos, que não passam de anúncios de segunda categoria, cujos produtos, já nem os tontos querem comprar.
Não consigo evitar esta autocomiseração, pois estou cheio de vazio. Durante muito tempo, demasiado tempo, apenas fui útil, de utilidade, utilizável e, agora, que isso só já não quero ser, esqueci-me do que antes disso fui e sobrevivo, num bunker com janela.
Recomeço a construção, impondo-me o único caminho momentaneamente possível: a futilidade existencial. Não tenho força para mais. Respiro racionadamente, porque pago agora o tempo em que usava o dobro do fôlego a que tinha direito. Não quero perguntas, acusações, culpas, nem conversas. Quase tudo me é estranho, menos a dor, que me é familiar, pois já há muito que tem a chave da minha alma.
Corro sérios riscos de magoar os que me rodeiam, nestes tempos que agora começam, pela necessidade que tenho em ser egoísta. Sinto os dias, como se fossem agulhas de Vudu.
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