20 fevereiro 2009

Rosas


helpless

São rosas, senhor…, disse a vendedeira, ao mesmo tempo que se ia preparando para tirar do regaço uma folha de papel de alumínio destinada ao ‘arranjo’. Não, minha senhora, não esteja a tirar as rosas que eu não quero…, disse, pouco convencido. Mas já viu como são lindas? insistia, E a sua Senhora de certeza que vai gostar!…
Cedendo, acabou por levar três lindos botões, que nunca chegariam a abrir, embora naquele dia estivesse convencido que desabrochariam como nenhuns outros antes e isso é adivinhação, saber das coisas antes delas acontecerem.
Subiu as Escadinhas do Duque e nem lhe pareceram muitos degraus, de tão distraído que estava com o amarelo das rosas. Chegando ao cimo, percorreu todo o Largo com o olhar e, como calculava, esperou apenas alguns minutos. Ela chegou, deu-lhe um beijo, recebeu as rosas e apenas disse São bonitas!…
Com as rosas numa mão e a mão dele noutra, ela desceu até à Brasileira e ele seguiu-a. A esplanada estava cheia, por isso esperaram, já sem as mãos trocadas, encostados à estátua do Poeta Chiado, por aí terem mais privacidade. Sabes, disse ela, Tenho uma coisa para te dizer…, apesar de não lhe conhecer aquele tom de voz, ele sentiu um calafrio. Quando a pausa, entre as palavras que ela ia dizendo, deixou de ser pausa para ser intervalo, ele disse Diz lá!… Descobri que não te amo, disse ela de uma só vez, como se tivesse estudado cada palavra, para não se enganar. Gosto muito de ti, mas… Não acredito!, interrompeu ele, já com os olhos avolumados pela notícia e continuou, numa cadência decrescente, Não acredito que me estejas a dizer isso…, e esperou nela o eco das suas palavras. Com o olhar dela fora de alcance da procura dos olhos dele, ela continuou mesmo sem querer, Eu queria que percebesses, mas já sei que não te consigo explicar… Desculpa… Mas…, continuava ela e ele negava o que ouvia, com lentos gestos de cabeça.
Ela quis confortá-lo, mas não encontrou forma de o fazer, até porque não existe forma, numa situação destas.
Ele ficou encostado àquela pedra, que minutos antes ainda era pedestal de escultura e não lhe dirigiu mais o olhar. Ela levou as rosas, mas só as suportou até à esquina seguinte, porque elas lhe queimavam as mãos. Ele, minutos depois, encontrou-as no chão, apanhou-as e também se queimou.
Ela arrependeu-se e ele não soube.

Sem comentários: