29 janeiro 2008
Verborreia
Hoje foi dia de prova de vinho. Fomos presenteados com este "Quinta do Carmo", um vinho com mais de 40 anos, que manteve um sabor "exquisit" (requintado), embora acusando já o tempo que por ele passou. Tratou-se de um acto de generosidade, por parte de quem organiza as provas que, da sua garrafeira, trouxe duas preciosas garrafas.
No regresso a casa, dado que hoje não levei o carro, dei por mim a divagar acerca das gentes, das vidas e dos amigos, acentuando a minha percepção sobre a forma de organização social e de estratificação económica a que todos estamos sujeitos.
F***-se, que sou um bom burguês e, simultaneamente, um proletário, comparando com outros burgueses que conheço! A necessidade que as classes dominantes têm em manter o "estado das coisas" e a forma submissa que a população teima em perpetuar, são um mistério para mim.
Dói-me a consciência do mundo que me rodeia e dele não consigo sair.
Lembro-me amiúde das pessoas que conheço e das que penso que conheço, das que admiro, das que imagino, das que estão perto de mim ou das outras que estando oniricamente próximas, estão longe, na Dinamarca ou na Holanda, no Brasil ou nos Estados Unidos da América.
Agradeço a sensibilidade e inteligência da Ana R ou do João N; a gentileza e generosidade dos meus amigos cactófilos; a permanência dos amigos de sempre, que sabem bem quem são e até a estranha família, que permanentemente busca um rumo.
Sou um artista falhado (segundo alguns parâmetros), mas isso não me inferioriza. Sou um pateta ciente do que o rodeia e que tem a poderosa capacidade dos patetas em acreditar que com os nossos gestos alguma coisa se pode mudar.
Estou parvo, mas isso não é de agora, já dura há muito.
Liberto-me na escrita, mas não se trata de uma simples terapia ou exorcismo. A minha fronteira está fora de mim, um pouco mais além do meu braço esticado. Quero engolir a vida e não ser engolido por ela.
Asseguro-vos de que este momento "surrealista" não se deve à prova de vinhos. Mas também que é que se importa?
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