31 janeiro 2010

O Outro*


Afinal...Quem é o Outro?

Não é só hoje,... que esta pergunta está na “ordem do dia”, mas sempre, na medida em que uma resposta cabal para ela também nos parece continuamente estar a escapar. Isso acontece, não só porque, com o tempo, tudo parece mudar: muda o mundo, muda o Outro e nós também mudamos. Assim, parece difícil, senão impossível chegar a qualquer conclusão... Mas será que é aí que verdadeiramente queremos chegar? A uma conclusão? Possivelmente também não.

O Outro surpreende-nos sempre, positiva ou negativamente, porque evolui, é um ser vivo, emotivo, reactivo, inteligente (no sentido em que faz juízos de valor). Até mesmo aborrecimento ou a ausência de surpresa, poderão constituir-se como catalisadores, dentro da relação.

Todos temos necessidade d’o Outro, todos temos uma certa Compulsão para a companhia, podemos percebê-lo através da própria definição de PULSÃO - Força no limite do orgânico e do psíquico que impele o indivíduo a cumprir uma acção, com o fim de resolver uma tensão vinda do seu próprio organismo por meio de um objecto, e cujo protótipo é a pulsão sexual.

Sabemos bem que somos animais gregários, sociais, estamos “desenhados” para interagir física e sexualmente, porque isso nos complementa, nos dá prazer, liberta a tensão acumulada e atenua a frustração.

Apesar de, nesta nossa pequena dissertação, nos focalizarmos n’o Outro, como aquele que está mais próximo, com quem possivelmente mantemos, mantivemos ou gostaríamos de manter uma relação de índole afectiva ou mesmo sexual, gostaríamos de alargar um pouco mais essa esfera e pensar o Outro, no seu sentido mais lato, mais conceptual.

Já há 2000 anos se falava no Outro e como refere Mateus, no Capítulo 22 e versículo 39, "Amar o seu próximo como a si mesmo", não significa que, em cada Outro, tenha de existir um “eu”, numa espécie de Ego-hegemonia pandémica. Não nos devemos nunca esquecer de que somos o Outro do Outro e, nessa medida, devemos sempre dar-lhe a oportunidade de se explicar antes de o julgar. Eu sou igual aos outros, não porque todos os outros tenham de ser iguais a mim, mas porque eu sou igual a eles… e isso faz toda a diferença! Assim devo perguntar-me: “Que faria eu, na sua circunstância, no seu lugar? “

Passamos grande parte da nossas vidas a querer modificar o Outro, como se de uma tarefa hercúlea se tratasse, e quase sempre temos de admitir de que é uma batalha que não conseguiremos ganhar. Porquê? Porque possivelmente o problema não está n’o Outro, mas em nós mesmos. Assim sendo, somos nós quem primeiro terá de mudar.

O Outro sempre será um LUGAR e uma oportunidade de melhorarmos a nossa relação com o mundo e, consequentemente, connosco mesmos, pois funciona como o eco de um vale profundo, que às vezes também é um abismo ou um multidimensional e magnífico espelho, que nos ajuda a evitar o desalinho, pois é nele, por excelência, que se situa o reduto da aprendizagem, através da observação, da tentativa e do erro, sem os quais, não desenvolveríamos nem um décimo das nossas capacidades.

Tendemos naturalmente a olhar o mundo como se dele fossemos o centro, aprendemo-lo desde crianças (uns mais do que outros) e, sendo o centro, olhamos para fora como se estivéssemos dentro de um funil. No entanto, sendo consensual de que precisamos sempre de um determinado ponto de vista para construir a nossa própria noção de mundo e de que convém que seja... nossa... estará errada essa perspectiva de funil?!? (possivelmente até não estará). Mas já tentaram satisfatoriamente arrumar vários funis num espaço limitado e comum, isto é, várias perspectivas de funil, numa conversa partilhada, quando todos insistem em que a sua perspectiva é a correcta e que não abdicam dela??? É indiscutível a utilidade do funil, mas quando se trata de olhar o mundo, não se pode insistir nesse tipo de posicionamento.
(...)
Devemos então aprender continuamente como lidar com o Outro. Mais cedo ou mais tarde, todos os detalhes, na relação que temos com Ele se revelarão de enorme importância (mesmo aqueles que tantas vezes julgámos serem insignificantes). E quando nos referimos a detalhes, não queremos sugerir qualquer tipo de comportamento obsessivo ou controlador, muito pelo contrário. Trata-se apenas de estarmos atentos e respeitarmos toda a Sua esfera,... a sua privacidade.
(...)
O Outro funciona simultaneamente como: o destino e a bagagem, o objectivo e a miragem ou ainda o Porto de Abrigo, no fim… da viagem.

Lisboa, 28 de Janeiro de 2010

outro

* da apresentação da Tertúlia

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