28 abril 2009

"Mais uma tarde sem jeito nenhum" - IX



Por entre conversas de namorados, discussões futebolísticas e acalorados discursos sobre o mau estado da Nação, lá conseguiu escrever duas páginas que, de tanto anotadas e riscadas, pouco sentido poderiam ter para qualquer outra pessoa que não ele próprio.
O Tempo, na escrita, sempre foi para ele um tema de eleição. Sentia que, escrevesse o que escrevesse, nunca dele se afastaria porque, para as palavras existirem, para que as possamos ouvir ou ler, para que em nós façam surgir qualquer tipo de sentimento, necessitamos permanentemente dele, do Tempo, como incontornável suporte para a vida.
Aliás, a maioria das palavras, escritas ou mesmo ditas, remete-nos para o Tempo e para o Espaço, “Tempo e Espaço”, pensou, “Espaço e Tempo”, “E” e “T”...
Ficou mais algum tempo a pensar no que lhe sugeriam aquelas letras e, como se fosse um jogo, resolveu procurar as palavras que, nas frases soltas que já tinha escrito, o remetiam para essa problemática de “E” e “T”. Chegou num ápice à conclusão de que já esperava: mais de metade das palavras que escrevera estava impregnada de Tempo, prenhe de Tempo, numa espécie de simbiose eterna, recriação permanente.
E reescreveu-as uma a uma, até ficar cansado.
Horas.
Sucediam-se.
Ensaiou.
Saíam.
Passava.
Escreveu.
Pensou.
Tocou.
Consumia.
Pousou.
Abandonou.
Momento.
Iniciou-se.
Espera.

Tudo o colava ao Tempo e o tempo colava-se a ele, como um caprichoso parasita.

Voltou para casa, percorrendo cada metro, horas antes palmilhado. Tinha traçado mentalmente, a esquadro e compasso, todas as rectas, curvas e até hipérboles, que em sentido inverso antes desenhara. No entanto, exceptuando distância relativa, nada conseguiu subtrair, nem tempo, nem sensações, nada. "Na Vida não há subtracções, apenas somas, mesmo que sejam somas de perdas", pensou.
Só quando fechou a porta de casa é que se apercebeu de que tinha feito o percurso sem se ter lembrado de olhar para as indiscretas janelas, penduradas naquela fachada de azul claro. Sentiu-se tremendamente volúvel. Pousou a mochila no chão, tirou de lá o caderno, que colocou na pequena mesa que está perto da janela da sala e dirigiu-se para o quarto, fingindo que estava cansado. Na realidade, o que lhe apetecia mesmo era dormir e gastar tempo e não lhe interessava os conselhos do travesseiro ou o poder reparador do sono, apenas desejava "Não Estar".
Era já recorrente este seu desejo, principalmente em situações de encruzilhada, nos momentos em que as opções se assemelham a rifas com prémios dúbios, que somos obrigados a levar connosco.
Cansaram-se dele as horas e acabou finalmente por adormecer.

don't know when, don't know why.


PX e dois enigmas
"Peixe e dois enigmas", 2000 - Acrílico sobre papel, 100x70cm

27 abril 2009

A Companheira



A Companheira

Composição: Luiz Tatit

eu ia saindo, ela estava ali
no portão da frente
ia até o bar, ela quis ir junto
"tudo bem", eu disse
ela ficou super contente
falava bastante,
o que não faltava era assunto
sempre ao meu lado,
não se afastava um segundo
uma companheira que ia a fundo

onde eu ia, ela ia
onde olhava, ela estava
quando eu ria, ela ria
não falhava

no dia seguinte ela estava ali
no portão da frente
ia trabalhar, ela quis ir junto
avisei que lá o pessoal era muito exigente
ela nem se abalou
"o que eu não souber eu pergunto"
e lançou na hora mais um argumento profundo
que iria comigo até o fim do mundo

me esperava no portão
me encontrava, dava a mão
me chateava, sim ou não?
não

de repente a vida ganhou sentido
companheira assim nunca tinha tido
o que fica sempre é uma coisa estranha
é companheira que não acompanha

isso p'ra mim é felicidade
achar alguém assim na cidade
como uma letra p'ra melodia
fica do lado, faz companhia

pensava nisso quando ela ali
no portão da frente
me viu pensando, quis pensar junto
"pensar é um ato tão particular do indivíduo"
e ela, na hora "particular, é? duvido"
e como de fato eu não tinha lá muita certeza
entrei na dela, senti firmeza

eu pensava até um ponto
ela entrava sem confronto
eu fazia o contraponto
e pronto

pensar assim virou uma arte
uma canção feita em parceria
primeira parte, segunda parte
volta o refrão e acabou a teoria

pensamos muito por toda a tarde
eu começava, ela prosseguia
chegamos mesmo, modesta à parte
a uma pequena filosofia

foi nessa noite que bem ali
no portão da frente
eu fiquei triste, ela ficou junto
e a melancolia foi tomando conta da gente
desintegrados, éramos nada em conjunto
quem nos olhava só via dois vagabundos
andando assim meio moribundos

eu tombava numa esquina
ela caía por cima
um coitado e uma dama
dois na lama

mas durou pouco, foi só uma noite
e felizmente
eu sarei logo, ela sarou junto
e a euforia bateu em cheio na gente
sentíamos ter toda felicidade do mundo
olhava a cidade e achava a coisa mais linda
e ela achava mais linda ainda

eu fazia uma poesia
ela lia, declamava
qualquer coisa que eu escrevia
ela amava

isso também durou só um dia
chegou a noite acabou a alegria
voltou a fria realidade
aquela coisa bem na metade

mas nunca a metade foi tão inteira
uma medida que se supera
metade ela era companheira
outra metade, era eu que era

nunca a metade foi tão inteira
uma medida que se supera
metade ela era companheira
outra metade, era eu que era

(A versão da Zélia Duncan é magnífica, mas não a encontrei disponível para partilha Web)

24 abril 2009

"Mais uma tarde sem jeito nenhum" - VIII



Sentou-se na cadeira da esplanada, local que lhe agradava sobremaneira por poder optar entre estar sozinho ou observar com alguma tranquilidade quem por lá passava. Ter virado à direita quando saiu de casa ou ter caminhado cerca de trinta minutos até àquele “porto de abrigo”, não tinha passado de um gesto que o hábito cristalizou. No entanto, algo tinha sido diferente naquele dia. Apesar de ter tantas vezes feito aquele percurso, sempre que não tinha de ir trabalhar, notou que algo estava diferente. Depressa de apercebeu de que a diferença não estava no grito ou riso ou lamento, nem sequer nas janelas que, curiosas, olharam para ele, mas sim nele próprio, porque não há nada mais transformador do que o Olhar.
Tirou da mochila o pequeno caderno, também o lápis e esperou que o empregado por ali passasse. Não estava com pressa e também não queria usar o perpetuado “olhefáxavor”, acompanhado de um levantar de braço. E esperou um ou dois minutos, até ter ao seu lado o empregado de mesa, a quem pediu uma Água gaseificada. “Sai uma, com gás!”, disse ele, dirigindo-se ao colega que estava por detrás do balcão. Ao contrário de outros empregados, este, que se chama José, não vocifera os pedidos. Tem a voz bem colocada e projecta-a, como se num palco estivesse. É um tipo estranho, muito vivo mas discreto.

A água chegou antes mesmo de ele ter conseguido escrever duas ou três palavras no paciente caderno. Nem todas as palavras são como as cerejas, há algumas que têm um difícil parto e outras que morrem prematuramente. Construir um texto com palavras seguras e saudáveis é apanágio de apenas alguns. As palavras possuem uma personalidade vincada e mordem a mão a quem displicentemente as utiliza.
Começou por rabiscar alguns gatafunhos, antes que surgisse qualquer frase. Fazia sempre isso, não que tivesse qualquer habilidade para desenhar, mas por acreditar que assim as palavras se sentiriam mais aconchegadas, tal como acontecia junto do Era uma vez... nas histórias que lia em criança.
Ele sabia bem a dificuldade de começar a escrever, já o tinha tentado centenas de vezes e muitas delas lhe tinham deixado algum tipo de marca, que geralmente era de frustração. Esse era um sentimento que sempre o tinha acompanhado e ele tinha que o assumir como familiar, porque a família não se escolhe, calha-nos!

De repente, lembrou-se do que se tinha passado há cerca de uma hora atrás e pensou em escrever precisamente sobre isso. Mas, ao mesmo tempo, também isso lhe parecia muito pouco e ele não era nem detective, nem jornalista, para além de lhe causar um certo pudor utilizar-se do infortúnio alheio para conseguir escrever meia dúzia de páginas, que inevitavelmente iriam acabar no fundo de uma qualquer gaveta.
Fosse o que fosse que escrevesse, teria de surgir de dentro dele.

23 abril 2009

Ainda dizem vocês que as plantas têm nomes esquisitos ...















"Importante expressão de edema envolvendo a cartilagem rotuliana da faceta externa junto à crista inter-facetária. É um foco de hipersinal que corresponde a uma condromalácia de grau I e terá relação com as queixas do paciente. Existe associada uma sinovite femuro-patelar.
No estudo dos meniscos, assinalamos uma discreta irregularidade justa-capsular do corno posterior do menisco interno e zona juncional posterior, de degeneração e sem laceração evidente instalada"


Fiquei a saber que, pelo menos, também o meu menisco interno tem um corno posterior!
(há algum ortopedista* por aí?!?!??!)

*para a semana já vou ter consulta

22 abril 2009

oh-oh-oh...



Hatiora gaertneri flowers
Hatiora gaertneri

"Uma tarde sem jeito nenhum" - VII



building 080226c

Andou apenas uma centena de metros e parou sem saber realmente qual o motivo porque parara. À partida, não se tinha esquecido de nada, não encontrou ninguém conhecido, não sentiu que o devesse fazer, nem tinha chegado a nenhum local minimamente convidativo para exercer a arte da reflexão, apenas reparou que tinha parado, como se as suas pernas já não lhe obedecessem.
Esse tão aparentemente banal acontecimento deixou-o curiosamente inquieto e durante alguns segundos, que naquele momento lhe pareceram uma eternidade, tentou procurar nos rostos das pessoas que passavam e que dele se desviavam, alguma pista que justificasse aquela situação.
Acho que estou a ficar doido, pensou, mas isso já não é grande novidade, voltou a pensar.
Subitamente, de uma janela qualquer, soltou-se um grito ou um riso ou um lamento, ele não percebeu bem o que era, porque o som que ouvira tinha um pouco de grito, de riso e de lamento também. Olhou para cima, para o prédio que lhe estava mais perto e todas as janelas lhe pareceram iguais, todas se calaram e ele por todas elas se sentiu observado.
De pés ainda fincados no chão, abriu rapidamente a mochila e tirou de lá a máquina fotográfica. Não se podia deixar intimidar por umas quaisquer janelas, de um prédio que sempre ali esteve, mas que ele nunca tinha visto, e fotografou cada uma delas, como se de pessoas se tratasse, individualmente, procurando revelar-lhes a alma.

Suavemente voltou a colocar a máquina fotográfica dentro da mochila, porque acreditava que dentro dela, algures dentro daquele incrível objecto, estava um tesouro.
Tinha passado grande parte da sua vida à procura de tesouros, tal como uma criança que à beira-mar apanha pequenas pedras e conchinhas, fascinada pela sensação de descoberta. Coleccionava pedaços de tempo, nos papéis, nas fotografias, em alguns objectos que o acompanhavam quando viajava ou na pacatez da sua casa, como se ele próprio se disseminasse por cada um deles. Estava disso convencido e possivelmente teria razões para tal.
As pernas avançaram-lhe, de novo sem aviso algum, mas ele nem estranhou, nem tão pouco se apercebeu e caminhou talvez durante mais de trinta minutos. E durante todo esse tempo tentou mentalmente reproduzir aquele som que ouvira, que nem era um grito, um riso ou um lamento ou que era tudo isso junto. Que disparate perder tanto tempo com isto, quis convencer-se, que tenho eu que ver com..., hesitou. Aquele acontecimento tinha-o marcado mais do que ele queria, ou talvez não, ele queria que aquele ou outro qualquer acontecimento o ajudasse a traçar um novo rumo, não lhe interessava que nas fotografias apenas aparecessem conchas ou que na mochila nada mais estivesse do que meia dúzia de pedras, o verdadeiro tesouro é aquele que criamos dentro de nós, pois não há nada mais verdadeiro do que aquilo em que acreditamos.

20 abril 2009

"Mais uma tarde sem jeito nenhum" - VI



afternoon

Eu preciso de arejar, foi o que ele pensou. Juntou numa pequena mochila, um bloco de notas, um lápis e uma pequena máquina fotográfica digital, que a Rita lá tinha esquecido em casa e naquela tarde as velhas escadas de madeira, outrora envernizadas, pareceram-lhe um túnel, um corredor que lhe daria acesso a uma garantida sensação de liberdade ou então ao Hades. Mesmo assim, estava absolutamente decidido a correr esse risco.
O tempo da autocomiseração que, para além de constituir um sofrível leitmotiv para os seus “ensaios” e que tantas vezes lhe serviu de desculpa para uma certa letargia, tinha os dias contados, pensou ele alto ou talvez o tenha dito baixinho, não interessa. O que interessa é que saía consciente de que naquele momento levava também consigo a sua circunstância, essa carga inalienável, déspota, imponderável, transparência de aço, sombra maior do que ele próprio.
Já à porta do prédio, virou à direita, não por alguma razão especial, mas por puro hábito e seguiu em frente como se soubesse plenamente para onde ia.
A tarde já tinha atingido a sua maturidade há algumas horas. Era o seu favorito período do dia, principalmente durante o Verão, quando uma certa cor de açafrão desce sobre os telhados e pelas paredes, anunciando que tudo tem um fim, os males que nos afligem e até as coisas boas que nos acontecem.
Antes que a noite fosse dona e senhora de todos os habitantes da cidade, resolveu voltar para casa. Nessa noite dormiu pouco e, bem cedo, desceu as mesmas escadas, que lhe pareceram diferentes. Sentia-se mais leve, mas não tinha tocado na mochila. Seria a sua sombra?

18 abril 2009

Sabia que virias



fóssil

Sabia que virias.
Há muito que tínhamos marcado este encontro,
tantas vezes adiado, tantas vezes sublimado.
A minha resistência, a tua persistência.

Sabia que virias.
Emprestaste-me a força que me ajudou a sobreviver
e, justificadamente, agora vens reclamá-la.
Eu tinha-o lido em livros antigos, em livros modernos,
ouvido nas vozes dos que contigo estiveram
ou que de longe te observaram.

Sabia que virias.
Até percebo que te temam e se afastem de nós,
pois tu deixas marcas, mesmo em quem de ti apenas se aproxima,
mas isto é algo profundamente íntimo, algo apenas nosso.

Sabia que virias.
Aceito-te, como durante meses aceitei a dádiva
de simultaneamente conseguir ser dia, noite, pai, companheiro,
enfermeiro, carcereiro, criado e finalmente, ninguém.

17 abril 2009

Potente



Mammillaria backebergiana
Mammillaria backebergiana

Dedicado (com todo o respeito) às mammillarias, que agora começam a florir e à minha amada Andaluzia.
(no sé si os gusta el "Cantaor"... pero me da igual! Olé!!)

16 abril 2009

"Mais uma tarde sem jeito nenhum" - V



goodbye

Uma das coisas que se inveja aos artistas é a sua genialidade ao transformar o curioso, o inesperado, o desconfortável ou o perplexo, em objectos, frases ou momentos de espanto. Pelo menos, ele acreditava fervorosamente nisso e, de uma forma quase autofágica, aproveitava todo e qualquer desaire para tentar escrever um pequeno texto, um conto ou, quem sabe, até um romance.
Tantas foram as vezes que partiu em direcção à “página desconhecida”, que um dia se apercebeu de que nada mais tinha para dizer e de que os personagens que criara e a quem dera rosto, dele se tinham simplesmente fartado e definitivamente partido: o José já desistira de trabalhar como caixeiro-viajante e trabalha agora numa firma de contabilidade; a Rute tinha conseguido perdoar ao pai e ao irmão todos os maus-tratos que, durante anos, lhe infligiram; o Luís acabou por enlouquecer sem realmente saber quem era.
Afinal não tinha sido apenas abandonado pela Rita, mas sim por todos os que lhe estavam próximos, até mesmo por aqueles que ele inventou.
Então, pensou a sério, ainda mais a sério, sobre o que lhe estava a acontecer. Quem teria realmente partido? Quem se afasta primeiro? A partir de onde se começa a medir o afastamento? Começa-se de cá para lá ou de lá para cá?
Todas estas questões ainda lhe povoam o espírito, principalmente porque são dúbias, ambíguas, revertíveis. Ele sabia que não há zona mais pantanosa do que o terreno do “eu”, mas tinha de haver uma saída!

15 abril 2009

Chegou hoje da Biscaia

gift from Marga
Echinocactus grusonii f. monstruosa / Walt Whitman - "Hojas de Hierba"

a gift (echinocactus grusonii f. monstruosa)

"Mais uma tarde sem jeito nenhum" - IV



A pressão familiar para que ele se casasse e tivesse filhos, muitos filhos, sempre foi uma constante, pelo menos até ao infeliz desfecho da não planeada, mas festejada gravidez da Rita, um aborto espontâneo às oito semanas, tempo suficiente para se fazerem imensos planos para o neto que aí vinha. Sim, era um rapaz, tinha de ser um rapaz, porque a família tem um nome e morrendo o nome, morre a família. Pelo menos era nisso que todos acreditavam e não há razão mais forte e cega do que a crença.

Uns tempos mais tarde é que ele percebeu que este episódio foi determinante para que a Rita saísse de casa, ou pelo menos isso era mais fácil de aceitar do que admitir a sua incapacidade para construir uma relação a dois. Que lhe faltaria? Entrega? Dedicação? Amor?!? Talvez.
“Talvez”, era a palavra com que mais se deparara ao longo dos últimos anos. É uma palavra ambígua, digna de encruzilhadas, plena de possibilidades, mas também cheia de angústia e parca de tranquilidade.
Talvez ainda não lhe tivesse sido dada a possibilidade, ou a fortuna de se apaixonar verdadeiramente? Não, isso não lhe parecia possível. No entanto, os “quarenta” estavam a poucos meses de distância e embora isso não o assustasse, porque considerava a passagem do tempo como apenas mais uma inevitabilidade, trazia-o um pouco perplexo, desconfortável.
Também ele se aproximava e se afastava dele próprio, amando e tantas vezes amaldiçoando a sua faceta artística...

14 abril 2009

unconditional lie



sad

(Recitado)

Las tardecitas de Buenos Aires tienen ese no sé qué, ¿viste?.
Salís de tu casa, por Arenales .
Lo de siempre: en la calle y en vos...
Cuando de repente, de atrás de un árbol, me aparezco yo.
Mezcla rara de penúltimo linyera y de primer polizonte a Venus:
medio melón en la cabeza, las rayas de la camisa pintadas en la piel,
dos medias suelas clavadas en los pies y una banderita de taxi libre
levantada en cada mano. ¡Te reís!...
Pero sólo vos me ves: porque los maniquíes me guiñan;
los semáforos me dan tres luces celestes,
y las naranjas del frutero de la esquina me tiran azahares.
¡Vení!, que así, medio bailando y medio volando,
me saco el melón para saludarte,
te regalo una banderita y te digo...


(Cantado)

Ya sé que estoy piantao, piantao, piantao...
No ves que va la luna rodando por Callao
que un corso de astronautas y niños, con un vals,
me baila alrededor... ¡Bailá!... ¡Vení!... ¡Volá!

Ya sé que estoy piantao, piantao, piantao...
Yo miro a Buenos Aires del nido de un gorrión;
y a vos te vi tan triste... ¡Vení! ¡Volá! ¡Sentí!...
el loco berretín que tengo para vos:

¡Loco! ¡Loco! ¡Loco!
Cuando anochezca en tu porteña soledad,
por la ribera de tu sábana vendré
con un poema y un trombón
a desvelarte el corazón.

¡Loco! ¡Loco! ¡Loco!
Como un acróbata demente saltaré,
sobre el abismo de tu escote hasta sentir
que enloquecí tu corazón de libertad...
¡Ya vas a ver!

Recitado

Salgamos a volar, querida mía;
subite a mi ilusión supersport,
y vamos a correr por las cornisas
¡con una golondrina en el motor!
De Vieytes nos aplauden: "¡Viva! ¡Viva!"
los locos que inventaron el Amor:
y un ángel y un soldado y una niña
nos dan un valsecito bailador.

Nos sale a saludar la gente linda...
Y loco –pero tuyo– ¡qué sé yo!:
provoco campanarios con la risa,
y al fin, te miro, y canto a media voz:

(Cantado)

Quereme así, piantao, piantao, piantao...
Trepatea esta ternura de locos que hay en mí,
ponete esta peluca de alondras ¡y volá!
¡Volá conmigo ya! ¡Vení, volá, vení!

Quereme así, piantao, piantao, piantao...
Abrite a los amores que vamos a intentar
la mágica locura total de revivir
¡Vení, volá, vení! ¡Trai-lai-la-larará!

(Gritado)

¡Viva! ¡Viva! ¡Viva!
Loca ella y loco yo...
¡Locos! ¡Locos! ¡Locos!
¡Loca ella y loco yo!

13 abril 2009

"Mais uma tarde sem jeito nenhum" - III



window

Pensando melhor, todas as relações da sua vida tinham tido uma pitada de estranheza, um desfasamento que, por ser latente, se manifestava amiúde e nos momentos mais inesperados. É óbvio que esses momentos foram e ainda são pontos de viragem, de introspecção, momentos tontos e de espanto.
A Rita era, sem dúvida, a pessoa que mais se irritava com as suas “ausências”, talvez porque isso, para além de lhe parecer um afastamento imposto, lhe trouxesse uma insegurança da qual não conseguia escapar. Que foi? perguntava ela, sabendo de antemão que a resposta seria: Nada!
Nos primeiros meses da sua estadia lá em casa, ainda insistia com ele, fazendo uso da arte de interrogar - apanágio desses seres obtusamente desconcertantes - perguntando sempre o mesmo mas utilizando diferentes vocábulos: Passa-se alguma coisa? Estás bem? Há algum problema? ou ainda Em que estás a pensar? A resposta era invariavelmente a mesma: Nada ou Está tudo bem.
Ele não tinha a noção do mal que isso lhe causava, a ela e ao relacionamento entre eles. Tanto que, quando ela se cansou de não perceber se habitava no coração dele, apenas lhe disse Vou-me embora! Ele perguntou-lhe o porquê e ela respondeu Por nada. Ele até quis não compreender a razão que a levava a tomar tal atitude, mas ter a consciência das coisas é como atravessar uma fronteira que imediatamente desaparece.
Ele chorou, a um metro da janela, imaginando que para ela Rita lançaria um último olhar. Nunca voltaria a sentir-se tão cobarde, como se sentiu naquele momento.

12 abril 2009

Life's too short, so please love and be happy








(Esta versão também é muito interessante!...)

I heard there was a secret chord
That David played and it pleased the Lord
But you don't really care for music, do you?
It goes like this, the fourth, the fifth, the minor fall, the major lift, the baffled king composing Hallelujah

Hallelujah
Hallelujah
Hallelujah
Hallelu----jah

Your faith was strong but you needed proof, you saw her bathing on the roof, her beauty in the moonlight overthrew you
She tied you to a kitchen chair, she broke your throne, she cut your hair, and from your lips she drew the Hallelujah

Hallelujah
Hallelujah
Hallelujah
Hallelu----jah

Maybe I have been here before, I know this room; I have walked this floor, I used to live alone before I knew you
I've seen your flag on the marble arch, love is not a victory march, it's a cold and its a broken Hallelujah

Hallelujah
Hallelujah
Hallelujah
Hallelu----jah

There was a time you let me know whats really going on below, but now you never show it to me, do you? (and)
Remember when I moved in you; the holy dark was moving too, and every breath we drew was Hallelujah

Hallelujah
Hallelujah
Hallelujah
Hallelu----jah

Maybe there's a God above, and all I ever learned from love was how to shoot at someone who outdrew you
And its not a cry you can hear at night, its not somebody who's seen the light, its a cold and its a broken Hallelujah

Hallelujah
Hallelujah
Hallelujah
Hallelu--jah

Hallelujah
Hallelujah
Hallelujah
Hallelu---u---jah

"Mais uma tarde sem jeito nenhum" - II


Durante seis semanas, o Sebastião, que era e ainda é o gato da vizinha da frente, mudou-se lá para casa e até parecia que aquele sempre tinha sido o seu único e amado lar, o que não é muito comum nos gatos, adaptarem-se tão facilmente a um novo espaço! De início, ele até lhe achava alguma graça, principalmente quando se escondia nos sítios mais improváveis que possam imaginar ou quando subitamente desatava a correr da sala para o quarto ou vice-versa, como se fugisse de um fogo ou de um cão, o que é a mesma coisa, porque o medo sempre foi um sentimento tremendamente transversal. Mas algum tempo depois e cansado de ter de servir de pajem ao gato, sempre que queria beber água ou se enfiava atrás da máquina de lavar roupa, sem conseguir sair, o idílio transformou-se num pesadelo que apenas tinha uma única coisa boa: o fim à vista! A vizinha voltou, quis pagar os estragos infligidos ao sofá, oferta que ele pronta e delicadamente recusou, não fosse ela voltar a pedir-lhe para o deixar de novo e apenas por “alguns dias” lá.
A sua relação com os animais, quase todos os animais, sempre tinha sido difícil. E até aí... tudo bem. O que lhe custava mesmo era ouvir dizer que “Os animais sentem quem é ou não é boa pessoa” ou ainda, “Eles percebem que tens medo, e pronto!” Já não lhe bastava o estigma de ser arranhado, mordido e humilhado por tudo o que tivesse mais de duas patas, ainda tinha de escutar longos sermões sobre etologia, vulgo "psicologia animal" e outras descobertas maravilhosas, tão bem apregoadas... principalmente por parte dos babados donos dos animalejos!
Havia no entanto, um género de animais que, para além de o tranquilizarem imenso, lhe recordavam uma infância feliz e com os quais nunca tinha tido qualquer tipo de desentendimento: os peixes de aquário (convém frisar este pequeno detalhe...)
Esse elo que o ligava ao mundo animal era praticamente desconhecido por todos os seus amigos e até pela Rita, com quem viveu durante três agridoces anos. Não lhe agradava admitir esse gosto, aparentemente pouco másculo, com receio de ser gozado, mesmo que se tratasse apenas de uma “brincadeira”. Isso tinha já acontecido, há tantos anos atrás, num momento em que optou por ficar a assistir ao nascimento dos Platys, em vez de ter ido jogar à bola. Desde essa altura e durante alguns meses, passou a ser conhecido como o “Barbatana”. Felizmente, as alcunhas tinham sempre pouca duração e desde “Oculetas” a “Pastilha” ou de “Bifanas” a “Livrinhos”, quase tudo lhe chamaram.
Presentemente não tinha nenhuma alcunha, pelo menos que o soubesse.

09 abril 2009

“Mais uma tarde sem jeito nenhum” - I



















“Mais uma tarde sem jeito nenhum”, pensou ele e tinha razão para pensar assim. As horas sucediam-se pateticamente, sem sequer darem pela sua existência. Aliás, essa é uma das características das horas, a de ignorarem em absoluto o que à volta delas se passa. O tempo nunca é nosso, apenas nos faz o favor de deixar que a ele ilusoriamente nos colemos, já tinha ele há muito concluído.
Ensaiou algumas palavras num papel qualquer, porque essa história de que para escrever um bom texto é necessário ter um sítio certo, uma cadeira confortável ou um papel especial, não o convencia. Apenas lhe saíam as palavras do costume: Hoje, Tempo, Noite, Pensamento. Tudo era tão vago, sem jeito nenhum, como a tarde que passava.
Escreveu dez linhas e pensou, Agora, tem de surgir um elemento inesperado na narrativa, algo como “O telefone tocou” ou “Bateram à porta” ou ainda “Sentiu uma dor”. Não, pensando bem, não era isso que ele desejava para o seu texto. Pousou o lápis e abandonou a folha, como quem desiste de fazer força. Naquele momento, iniciou-se o tempo da espera: o texto esperava o autor; o lápis esperava a mão… e a ideia, esperava a palavra certa.
Um copo de água.
A cozinha era, inevitavelmente, o lugar onde ele poderia saciar aquela repentina sede. Se eu fosse como o Sebastião, pensou, o caminho seria mais curto, bastava ir à casa de banho e miar para a torneira do bidé. Assim, tenho que me comportar como gente, dividir-me entre o sofá e o tapete, quando o que me apetecia era ser gato e procurar moscas e borboletas, afiando as unhas onde bem me apetecesse.

(cont...)

07 abril 2009

Abraço

euphorbia goblosa flower macro
Euphorbia goblosa

Flor da Pele*



moving forward

*Dedicado a tod@s @s que se sentem assim, porque têm RAZÃO para assim se sentirem!

Não sei se me repito...

...mas tenho demasiadas lágrimas presas.



water drops on a clematis forming seed

Eu (não) sou

mammillaria geminispina
Mammillaria geminispina

É difícil escolher o que dizer, depois de um momento que profunda e dolorosamente nos marca. A Vida segue o seu próprio e caprichoso rumo, é certo, mas até que nos reajustemos, desejando que as feridas velozmente se transformem em cicatrizes, nada mais somos do que crianças perdidas.

Questiono-me muitas vezes, mais do que aquelas em que aqui escrevo textos de cariz "pessoal/privado", sobre a validade dos mesmos e o grau de exposição a que "nos" sujeitamos neste tipo de meio.
A multiplicidade de intervenientes neste processo é tal (tendo em conta o tipo de papel que podem desempenhar), que o "Eu-blog" passa a ser uma entidade (não colectiva, mas de algum modo) convergente, cuja existência se baseia num fluxo bidireccional de força implicitamente negociada.
Mas onde colocamos a fronteira que separa o privado do público? Terá de existir fronteira? Quem decide?

Falar de amor, de desamor, da doença de um animal de estimação, de problemas sociais, de política ou do mau serviço da TV Cabo, parece-me tão justificável quanto mostrar fotografias de gatinhos, cactinhos ou naperons...

O "blog-mundo" não é muito diferente do "mundo-real" (seja lá o que se entenda por mundo-real), é apenas mais rápido, mais "fácil" e, por vezes, mais "nocivo".
(Aqui... e não só) Todos somos personagens, que adquirem outras dimensões quando têm a possibilidade de fisicamente interagirem, através de novas experiências.

Eu não sou aquele que imaginam que eu sou (por isso que é "imaginam"... ;)) Mal de mim! Espero ser muito mais do que isso, mais para bem e mais para mal.
Conhece-se demasiado cedo o que se deveria conhecer mais tarde e demasiado tarde o que se deveria ter conhecido.. desde a primeira hora.
Esse é um dos Grandes Erros que se cometem nesta "blog-twit-qualquer-coisa-era", ou seja... "Too fast, too soon"!

(Nada, nestas linhas, se assemelha ao que eu mentalmente tenho vindo a construir... mas, com certeza, que voltarei ao assunto, dado que no meio de processos, notificações, cartas e reportes obrigatórios... é difícil concentrar-me!)

05 abril 2009

João Manuel, Fazes-nos falta!

1608 - Rio Mundo

Na passada quinta-feira falei ao telefone com o meu amigo João Manuel (do Porto) e ele disse-me que apesar de não estar nada bem, tinha muita fé e que tinha uns amigos fora de série.
Era merecedor de todos eles, porque era um SER EXCEPCIONAL.

palavras dos seus amigos:

Whynotnow

The White Scratcher


À Volta da Fogueira

Tong Zhi

Há Espaço para Todos

Felizes Juntos

Felizes Juntos ...

03 abril 2009

Ok, let's move on!

Monotonia?

Gemäldegalerie ceiling
(desculpem-me este desabafo...)
Há já alguns anos que deixei de utilizar a expressão "Não pode ser pior!", porque... pode sempre ser pior! Gostaria de sublinhar que não há nesta forma de pensar nenhum tipo de pessimismo ou de resignação, pelo contrário, há uma implícita vontade de sobreviver e até vencer, de ser optimista.

Sei que hoje é sexta-feira e que "deveria" aqui colocar um "conto", mas como sou trespassado pela realidade... a ficção parece-me tão pobre!!!
Recebi há pouco um telefonema da minha mãe, que me contou que, ontem, a minha tia partiu o braço em três sítios e que, quando no Hospital de Caldas da Rainha, a quiseram mandar para Lisboa para, possivelmente, ser operada, se recusou a ir (assinando um termo de responsabilidade), por não se sentir psicologicamente preparada!!!!

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foi assim que eu fiquei... sem palavras!!

Agora, espero que a tragam ao fim da tarde para Lisboa, num carro particular, para estar algumas horas na Sala de Espera do Hospital de Santa Maria (onde, claro, eu também vou estar, pois já não sei se poderei sair de Lisboa...), sujeitando-se a ter complicado seriamente uma situação que, de si, já não era nada fácil!

Claro que podia ser pior!
Tenham um óptimo Fim-de-Semana!

02 abril 2009

Urgência

Tudo muda num dia, numa hora, num segundo.
Ontem fiquei a saber que um grande amigo meu está internado no IPO do Porto há cerca de um mês (eu sabia que ele estava em tratamento oncológico, mas por razões incontornáveis não soube dele durante algum tempo) e fiquei muito triste, mas imediatamente decidi ajudá-lo em tudo o que puder.
Só a bondade dos meus amigos me transformam naquilo que sou.

Outro (novo) amigo que está prestes a perder o emprego, ganhando uma entrevista para uma outra oportunidade, uma família que não me escuta quando deve, mas exige firme atitude em todo o resto do tempo, a saudade e a preocupação com um ex-amor que consome quase toda a minha energia anímica...

Aguento-me, porque quero fazer a diferença, porque ajudando, justifico-me!

getting older, fortunately

Bom Dia!

haworthia venosa ssp tesselata
haworthia venosa ssp tesselata

01 abril 2009

Berlim 2009 Dia 3 (23 de Março)

Ainda no dia 22...

alexander platz
Alexander Platz

kapitalismus
Prenzlauer Berg

Dia 23 (Um temporal imenso / frio, chuva, ventooooooooooooooo!!!), mas não podia deixar de visitar o Jardim Botânico, que fica fora da cidade...

Up High

echinocactus grusonii landscape

from above

Para não dizerem depois... que só coloco fotografias de cactos! ;)
azaleas e camélias

oxalis

Ainda uma volta pela cidade
Kaiser-Wilhelm-Gedächtniskirche
Kaiser-Wilhelm-Gedächtniskirche

...e um belíssimo concerto de Lura, ao fim do dia, com o novo trabalho ECLIPSE!
Lura, in Berlin - March, 23

Example

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